terça-feira, 7 de setembro de 2010

"Vedetas lusas na terra de Drácula"

Este documento foi publicado no JN no ano de 2006 e fala um pouco dos 4 tugas que na altura representavam a equipa do Cluj, deixo aqui um belo testemunho em que me relembra um pouco da realidade romena!

" Cadu, Manuel José, Pedro Oliveira e Semedo reluzem na terra de Drácula. Com os quatro emigrantes portugueses, o CFR Cluj desafia a hegemonia dos clubes de Bucareste, incluindo o grande Steaua, e lidera a Divisão A, só com vitórias, em quatro jornadas.

Cluj-Napoca, capital histórica da Transilvânia, vive, há cinco séculos, na sombra da tenebrosa criatura do Conde Drácula. A cidade do Noroeste da Roménia é que não se importa com a sinistra reputação e até aproveita para criar o que era proibido pelo regime comunista lucrar com uma certa indústria turística em torno do famoso vampiro.

Deposto Ceausescu, falida a Roménia comunista, a cidade medrou no capitalismo e tornou-se numa das regiões mais prósperas da Roménia. De repente, surgiram grandes fortunas, como a de Arpad Paszkanyi, empresário, multimilionário e mecenas do CFR Cluj. É ele quem suporta os 5,5 milhões de euros do orçamento anual do clube. Em Portugal, só o F. C. Porto, o Benfica, o Sporting e o Marítimo têm lançamentos superiores.

"O Cluj está para os grandes clubes de Bucareste como o Braga está para os três grandes de Portugal. É um clube emergente do futebol romeno, que tenta intrometer-se entre os maiores rivais", observa Pedro Oliveira, um dos quatro jogadores portugueses emigrados na Transilvânia.

O ex-avançado do Vitória de Setúbal, formado nas escolas do Boavista e do F. C. Porto, congratula-se com as boas condições encontradas na Roménia, mas também verifica que o clube lhe proporciona "um mundo à parte" num país ainda em desenvolvimento, num pedaço de Europa a duas velocidades. Ao volante dos Chevrolets, novinhos em folha, que o CFR Cluj lhes deu, Pedro Oliveira, Cadu, Semedo e Manuel José vêem-se, frequentemente, aos ziguezagues, para evitar buracos e para ultrapassar... carroças!

"A Roménia ainda é um país em desenvolvimento, mas Cluj-Napoca até já é uma cidade mais moderna que o resto do país. Comparada com Bucareste, por exemplo, é bem mais cosmpolita", verifica Pedro Oliveira.

Com os seus 342 mil habitantes, Cluj é uma cidade da dimensão do Porto, mas o ex-avançado do Vitória de Setúbal prefere compará-la a Coimbra, devido à movida estudantil. Sendo um dos maiores centros académicos da Roménia, recebe, a partir de Setembro, 80 mil estudantes.

Instalados em Cluj vai para dois meses, os quatro jogadores portugueses mal tempo têm, entre estágios, treinos e jogos, para visitar e conhecer melhor a cidade. O ritmo de vida é mais casa-trabalho, trabalho-casa. Moram todos juntos, no mesmo prédio, em apartamentos do clube, novinhos em folha, com todas as mordomias, incluindo complexos sistemas de satélite, que lhes permitem ter todos os canais portugueses de televisão e ouvir falar a língua materna.

Como bons vizinhos, frequentam a casa uns dos outros e almoçam e jantam juntos. "Quando a minha mãe estava cá e cozinhava para todos nós, chegámos a ser 13 à volta a da mesa", relembra Cadu. O colega Semedo também tem saudades de D. Maria e está mortinho por quinta-feira, que é quando chegam a mulher e a filha Daniela, de um ano e quatro meses.

É neste Portugal dos Pequeninos, no coração da Transilvânia, que as famílias dos quatro emigrantes, irmanados pelo destino, vencem a distância e o choque cultural na terra de Drácula. Semedo brinca com o destino "Se for preciso, só saímos à rua com alhos!...".

No condado de Drácula, o terror dos jogadores do CFR Cluj não é o malévolo vampiro, mas, sim, o treinador! Aos 38 anos, Dorinel Munteanu, uma lenda do futebol romeno, contemporâneo de Hagi, Popescu e outros Lupescus, ainda faz uma perna no meio-campo do Cluj e da selecção. E também cria fama como técnico rigoroso e disciplinador. É ele que dá a ginástica e a táctica... É ele quem anda sempre com a balança atrás dos craques e é ele quem faz de nutricionista, exigindo aos jogadores higiene profissional. Não há chocolates para ninguém. E a coca-cola é completamente proscrita! "Mal chegámos cá, ele logo nos avisou. Quem for apanhado a fumar paga, pela primeira vez, multa de cem dólares. Quem reincidir paga 300 dólares e, à terceira, a multa chega aos mil...", conta Pedro Oliveira. Munteanu acaba mesmo de multar toda a equipa. Apesar de ter ganho (3-1) o jogo da terceira jornada, no campo do Piatra Neamt, na semana passada, o treinador ficou furioso por ter sofridoum golo no último minuto, por alegada "falta de concentração dos jogadores". Vai daí sentenciou uma coima de cem euros para todos os jogadores, mesmo os suplentes. "É uma exigência saudável", observa Cadu, ele que, tal como os colegas, sofreu a bom sofrer com a disciplina quase militar imposta no estágio de pré-época. Alguns jogadores disseram mal da vida e tiveram de aguentar com as lágrimas nos olhos..."

Link : http://jn.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=565523

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