terça-feira, 2 de novembro de 2010

“Entregar o clube com dívida zero e manter o futsal na I divisão”

Já foi jogador, até 1999, e dirigente, até 2006, do Grupo Desportivo de Boticas. Mas foi como presidente do clube que se notabilizou. Por um lado, foi o primeiro presidente a levar a equipa de futsal à primeira divisão, mas ficou também marcado como o presidente que acabou com o futebol 11. Paulo Aleixo orgulha-se do número de jovens que tem na formação e tem um objectivo claro até ao final do mandato em Maio de 2011, ao qual não se vai recandidatar: entregar o clube com zero dívidas e com a equipa de futsal na primeira divisão.

Ecos de Boticas: Como avalia estes últimos quatro anos como presidente?

Paulo Aleixo: Penso que foram muito positivos. Atingimos o feito histórico de chegar à primeira divisão nacional. O mais importante, e o que me orgulha cada vez mais pessoalmente, é ter cada vez mais jovens a pratica desporto. Na época passada tínhamos seis equipas de formação e este ano contamos e vamos ter equipas de formação em todas as faixas etárias. Desde os Traquinas até aos juvenis em futebol 11 e juniores em futsal.

Tem havido a preocupação de estender o desporto a todos os jovens?

Exactamente. A nossa preocupação é manter o máximo de praticantes possíveis nas modalidades que temos. Neste momento o futsal tem mais visibilidade, mas curiosamente temos mais praticantes no futebol 11.

Quais são as maiores dificuldades de Boticas no desporto?

As maiores dificuldades passam por conseguirmos arranjar dinheiro e verbas para manter a estrutura do clube. Em termos de infra-estruturas são das melhores do país. O município tem-nos apoiado sempre. Um handicap que temos é não termos gente, porque estamos num concelho do interior, e todos os concelhos do interior se debatem com este problema, que é a falta de material humano. Sendo nós um concelho muito pequeno, com cerca de 5000 habitantes, acredito que cerca de 90% da nossa juventude pratique desporto.

Por onde deve passar o futuro do clube?

Na minha perspectiva, e digo isto sem qualquer tipo de demagogia, a aposta do futsal deve ter continuidade, porque é a modalidade que se adapta melhor a concelhos de interior como o nosso. Apostar numa equipa de futebol 11 para subir aos nacionais é no meu ponto de vista acabar com um clube, porque não tem sustentabilidade financeira para aguentar.

Vê o futsal a evoluir aqui e a ter mais portugueses nos planteis?

Naturalmente que pretendíamos e gostaríamos de ter uma equipa de futsal na primeira divisão com mais atletas da terra, mas isso é completamente impossível porque não temos material humano. Mas não podemos esquecer que quem levou a equipa aos nacionais foram os atletas da terra, no qual me incluía eu. Subimos à terceira divisão com pessoal exclusivamente de Boticas. Obviamente que a partir da terceira divisão e da segunda divisão era impossível subir só com pessoal da terra.

Considera o Boticas uma referencia do futsal na região?

Sem sombra de dúvidas. O futsal do Boticas é uma referência não só para o concelho mas para a região do Alto Tâmega e para o distrito de Vila Real. Conseguimos manter a equipa na primeira divisão logo no primeiro ano que subimos, o que foi um feito histórico porque além do Belenenses apenas nós é que conseguimos fazê-lo.

Ainda se lembra da altura em que decidiram apostar no futsal?

Recordo-me perfeitamente. O presidente do clube era o Eng. Teixeira. Eu era atleta do clube, fraco [risos]. Isto começou com um grupo de amigos, íamos para os jogos com os nossos carros, pagávamos a alimentação e as deslocações dos nossos bolsos, o clube apenas pagava as inscrições dos atletas. Tinhamos um enfermeiro, que hoje é enfermeiro do clube, que na altura era atleta. É bonito recordar essa altura, porque era um espírito de amizade, mas colhemos frutos dez anos depois, e precisamente dez anos depois, conseguimos chegar à primeira divisão nacional. Éramos 16, e ainda tenho o cartão deles todos para um dia destes fazermos uma brincadeira e um jantar de confraternização da primeira equipa de futsal do Boticas.

Conforme a equipa foi subindo de escalões como foi a reacção das pessoas?

Felizmente, a equipa foi sempre muito apoiada, não só pelos sócios do clube, mas também pela população. Este ano não se tem sentido tanto, mas no ano passado éramos com certeza, exceptuando os clubes grandes, a equipa que tínha mais gente a ver os jogos. Quem vem cá jogar fica surpreendido e pergunta como é possível que tanta gente caiba no pavilhão. Foi sempre uma modalidade a que a população aderiu e apoiou desde o início.

Vai-se recandidatar para continuar à frente do clube?

Não. É ponto assente e definitivo que é o meu último mandato e o meu último ano.

Custa muito deixar o clube?

Sinto-me cansado e esgotado. São muitos anos, dá muito trabalho, isto, não é brincadeira. Não é só o futsal sénior, não podemos esquecer que temos mais sete equipas de camadas jovens a competir, que é esse o meu grande orgulho como presidente e o grande orgulho da direcção, porque é pelas camadas jovens que nós temos apoio do município. E cada vez é mais difícil arranjar dinheiro para manter a equipa de futsal na primeira divisão e para manter estes jovens todos a competir. Saio, espero eu, com a equipa na primeira divisão, com o espírito de dever cumprido. E desejo que apareçam bastantes listas para o próximo mandato, porque precisamos que o clube mantenha a mesma força que tem tido até agora.

Vai afastar-se mesmo do desporto?

Isso não vou conseguir. São muitos anos, sobretudo pelo futsal. Eu reconheço que sou o presidente do futsal, podem-me chamar isso. Eu reconheço publicamente que sempre gostei mais de futsal do que futebol 11. Tanto é que vVou ficar na história por ter sido o presidente que levou a equipa de futsal à primeira divisão mas também como o presidente que terminou com o futebol 11. Nós, direcção do clube, terminámos com o futebol 11, a equipa sénior apenas, ou seja, suspendemos a actividade por épocas indefinidas, porque depende da direcção que vem a seguir. Tenho que referir uma situação, pois esta direcção trouxe novas modalidades ao clube, o basquetebol e o atletismo, que vamos começar a apostar já nesta época. A decisão de acabar com o futebol 11 foi uma decisão ponderada, mas penso que foi uma decisão acertada.

O facto de ter terminado com o futebol sénior permitiu ao clube respirar melhor?

O facto de terminarmos com o futebol 11 permitiu-nos começar com o basquetebol, e também implementar o atletismo. E também nos permitiu recuperar dos saldos negativos dos anos anteriores. O meu maior objectivo é entregar o clube com dívida zero e o objectivo seguinte é manter o futsal na primeira divisão. O mais importante é que o clube tenha credibilidade na praça pública. É um orgulho que tenho, porque hoje qualquer atleta quer ser jogador do Boticas e qualquer pessoa diz que o Boticas é um bom clube para jogar. As pessoas saem daqui sem nenhuma divida, e eu posso, ao contrário se calhar de outros clubes e presidentes, dizer à vontade, por onde passe e por quem passe, que passo à vontade e dou-me bem com as centenas de atletas que passaram pelo clube. A minha postura no desporto passa por aí, dar credibilidade à instituição em todos os serviços que o clube tem.

Como está a correr esta segunda época do Boticas na primeira divisão?

Queria ter mais pontos, naturalmente, queria ter 18, mas infelizmente só temos oito. Não estou descontente, mas também não estou contente, porque o jogo com a Fundação [Jorge Antunes] deixou-me completamente de rastos. Aqueles três pontos [em casa] nunca eram para perder. Mas tirando esse jogo, o campeonato está a corresponder às expectativas.

O Boticas tem condições para se tornar uma equipa sólida na primeira divisão?

Com certeza, acredito que vamos conseguir os nossos objectivos, que é ficarmos nos primeiros oito lugares e ir o mais longe possível na Taça de Portugal. Se for possível atingir o mesmo resultado do ano passado, as meias-finais, excelente.

O plantel do Boticas é curto, vão haver contratações?

O plantel vai ficar com este número de jogadores até ao final da época. Poderão haver algumas mexidas em Dezembro, mas com a certeza absoluta que não vamos mexer no orçamento nem um cêntimo, porque não podemos. Se entrar algum atleta, naturalmente que vai ter que ser compensado com a saída de outro.

Diogo Caldas


Link: http://diarioatual.com/?p=1646

Sem comentários:

Enviar um comentário